sábado, 2 de junho de 2012

Família. Na Internet.

Durante os anos 90 e até o início dos anos 2000 eu era um pirralho. Não tinha idade pra fazer nada. Não podia entrar nos brinquedos mais maneiros do parque de diversões. Não podia ver Cidade de Deus no cinema. Não podia comprar revista de mulher pelada na banca de jornal sem rir. Para acabar com essa injustiça, um grupo de pessoas decidiu criar a Internet, um espaço com classificação indicativa reversa. A criação das redes sociais foi o marco de que os adultos jamais poderiam entrar nesse espaço.

Acontece que, hoje, vivemos tempos difíceis. As famílias do mundo inteiro decidiram conspirar contra esse tratado histórico. Pais, tios, avós e qualquer tipo de parente que já tenha te pegado no colo e limpado suas fezes passaram a se esforçar para invadir o espaço que um dia foi apenas seu. E qual é a primeira coisa que eles fazem? Deixam um recado em qualquer mural ou scrapbook. Mais ou menos assim:

“Nossa, como você cresceu!!! Lembro como se fosse ontem da época que eu te pegava no colo rsrsrs!!! E limpava as suas fezes rsrsrs!!!”

Aos poucos, deixar recados nos locais apropriados deixou de ser o bastante. Foi quando começou um dos fenômenos mais visíveis da presença de familiares nas redes sociais: deixar recados em caixa de comentários. É impressionante a atração quase magnética que uma foto exerce nos dedos dos seus parentes. E esse é um dos poucos casos em que uma possível distorção pervertida da frase soa menos constrangedora do que a verdade, que é a seguinte:

Jantar romântico com a minha namorada. Te amo!
Comentários:

Amigo Antigo: Cara, quanto tempo que eu não te vejo, que foto ótima! Felicidades pra vocês!
Amiga Típica: awn que fofos! Lindos! <3
Amigo Indie (e gay): essa foto é da Diana F+ ou daquela sua Holga Lomography?
Familiar 1: Caramba já está namorando??? não importa você será sempre o bebê que eu carreguei no colo!!! bjs meu bebuxinho
Familiar 2: Bernardo quanto tempo que eu não limpo suas fezes rsrsrs!!!
Familiar 3: mande um beijo para sua avó pelo aniversário dela aqui em minas o tempo tá ótimo abraços da tia mariana

O que há de pior nessa história toda é quando essa síndrome da família atinge familiares nossos que nem são tão velhos assim. Eu sei que vai ser difícil acreditar no que eu vou falar agora, mas tem gente que fica ofendido com uma besteira ou outra que eu escrevo aqui. Nego acha a linguagem ofensiva, suja, e por aí vai (eu sei, bando de filho da puta arrombado). 


Outro dia uma prima da minha idade me chamou no Facebook perguntando se “era verdade aquela história do anão masturbado e enrabado por um jegue”, e que ela ia mostrar o texto pra minha mãe. Até eu convencer ela de que aquilo era um grande engano, foram uns cinco minutos batendo papo sobre o incrível cheiro das minhas fezes quando eu tinha cinco anos.

Nem o Augusto Cury de vocês consegue uma solução para essa parada. O que eu sei é que o Facebook não criou aquela lista “RESTRICTED” à toa, né. Lotá-la com os seus parentes é uma boa resistência, mas ainda é pouco. Nossos familiares velhos invadem cada vez mais a Internet. Chegaram ao cúmulo até de criar uma rede social do emprego (linkedin.com). Tipo, como se a gente fosse cair nessa mentira de que existe gente que usa a Internet para trabalhar. Conta outra, cara.

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