Durante os anos 90 e
até o início dos anos 2000 eu era um pirralho. Não tinha idade pra fazer nada.
Não podia entrar nos brinquedos mais maneiros do parque de diversões. Não podia
ver Cidade de Deus no cinema. Não podia comprar revista de mulher pelada na banca de jornal sem rir. Para acabar com essa injustiça, um grupo de pessoas
decidiu criar a Internet, um espaço com classificação indicativa reversa. A
criação das redes sociais foi o marco de que os adultos jamais poderiam entrar
nesse espaço.
Acontece que, hoje,
vivemos tempos difíceis. As famílias do mundo inteiro decidiram conspirar
contra esse tratado histórico. Pais, tios, avós e qualquer tipo de parente que
já tenha te pegado no colo e limpado suas fezes passaram a se esforçar para
invadir o espaço que um dia foi apenas seu. E qual é a primeira coisa que eles fazem?
Deixam um recado em qualquer mural ou scrapbook. Mais ou menos assim:
“Nossa, como você
cresceu!!! Lembro como se fosse ontem da época que eu te pegava no colo
rsrsrs!!! E limpava as suas fezes rsrsrs!!!”
Aos poucos, deixar
recados nos locais apropriados deixou de ser o bastante. Foi quando começou um
dos fenômenos mais visíveis da presença de familiares nas redes sociais: deixar
recados em caixa de comentários. É
impressionante a atração quase magnética que uma foto exerce nos dedos dos seus
parentes. E esse é um dos poucos casos em que uma possível distorção pervertida
da frase soa menos constrangedora do que a verdade, que é a seguinte:
Jantar romântico com a minha namorada. Te amo! |
Comentários:
Amigo Antigo: Cara,
quanto tempo que eu não te vejo, que foto ótima! Felicidades pra vocês!
Amiga Típica: awn que
fofos! Lindos! <3
Amigo Indie (e gay): essa
foto é da Diana F+ ou daquela sua Holga Lomography?
Familiar 1: Caramba já
está namorando??? não importa você será sempre o bebê que eu carreguei no
colo!!! bjs meu bebuxinho
Familiar 2: Bernardo
quanto tempo que eu não limpo suas fezes rsrsrs!!!
Familiar 3: mande um
beijo para sua avó pelo aniversário dela aqui em minas o tempo tá ótimo abraços
da tia mariana
O que há de pior nessa
história toda é quando essa síndrome da família atinge familiares nossos que
nem são tão velhos assim. Eu sei que vai ser difícil acreditar no que eu vou
falar agora, mas tem gente que fica ofendido com uma besteira ou outra que eu
escrevo aqui. Nego acha a linguagem ofensiva, suja, e por aí vai (eu sei, bando
de filho da puta arrombado).
Outro dia uma prima da minha idade me chamou no Facebook perguntando se “era verdade aquela história do anão masturbado e enrabado por um jegue”, e que ela ia mostrar o texto pra minha mãe. Até eu convencer ela de que aquilo era um grande engano, foram uns cinco minutos batendo papo sobre o incrível cheiro das minhas fezes quando eu tinha cinco anos.
Nem o Augusto Cury de
vocês consegue uma solução para essa parada. O que eu sei é que o Facebook não
criou aquela lista “RESTRICTED” à toa, né. Lotá-la com os seus parentes é uma boa resistência, mas ainda é pouco. Nossos
familiares velhos invadem cada vez mais a Internet. Chegaram ao cúmulo até de criar
uma rede social do emprego (linkedin.com). Tipo, como se a gente fosse cair
nessa mentira de que existe gente que usa a Internet para trabalhar. Conta outra, cara.
totally agree. parentes apenas nos álbuns de fotografia !
ResponderExcluirhaha mandou muito bepe
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