quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Olimpíadas


Com essa onda de geral usando facebook e twitter por aí, virou moda a galera do jornalismo falar que tudo nesses últimos anos é um “momento histórico”. Em 2010 foi o “momento histórico” dos internautas trollando* a Copa do Mundo com hashtags como o “CalaBocaGalvao” (*expressão da época). No mesmo 2010, os mesmos brasileiros fizeram “história” tendo a oportunidade de usar o twitter para escrever profundos textos e reivindicações de extensos cento e quarenta caracteres para seus candidatos nas Eleições. Aí chega 2012 e os caras já tem a matéria pronta: “Momento histórico. As primeiras Olimpíadas do facebook”.

O único marco histórico de verdade dessas Olimpíadas é a oportunidade dos meus leitores de finalmente pagarem de expert nesses jogos olímpicos. Talvez vocês não saibam, mas estão lendo as palavras de um típico Beckham das rodinhas de resenha esportiva.

Nessas rodinhas sempre tem um Romário, aquele sacana que finaliza os comentários dos outros com uma piadinha malandra; um Guiñazu, vulgarmente conhecido como o chato que não se rende de jeito nenhum a um massacre de argumentos contrários ao seu; um Paulo Vinícius Coelho, o sujeito que serve de database pra galera não ficar sem argumento na hora de comentar se a Copa Toyota é ou não é título mundial; entre muitos outros.

Eu sou o (Augusto Cury) David Beckham: um cara com mulher, vida social, trabalho fora do esporte, que por tudo isso não tem muito tempo pra assistir eventos do porte de um China x Japão pelo badminton. Como não quer ficar de fora do bagulho, esse cara é aquele enganador que fica quietinho, na dele, só esperando a oportunidade de fazer uma intervenção totalmente genérica e que não leva a lugar nenhum, mas que vai soar como a palavra de um especialista. E aí já viu, amigo: a galera toda concorda, bate palma, e o cara sai como expert sem saber de porra nenhuma.

Na boa, pra que acompanhar atletismo, por exemplo? Se não for um negro ganhando, é um americano. Quando o cara for os dois ao mesmo tempo então, é quase certo. Tu tá ali em volta da TV com seus amigos, prestes a começar os 800m livre e a galera levanta a ideia de um bolão. Tu é um cara alienado, só conhece o Bolt e a Maurren Maggi que eu sei, vai apostar em quem? No americano mais negro que aparecer ali. Sem medo.

Você discordaria de alguém que aposta nesse tipo de atleta?

Se tu pegar um Che Guevara na rodinha e o cara começar a discordar de você por causa da sua preferência pela Coca-Cola, basta mudar o palpite para um eslavo. Qualquer país do Leste Europeu é sempre um palpite inteligente. Ninguém vai duvidar de um cara cujo nome é impronunciável e tem cara de inimigo do Rocky Balboa. Agora, se por acaso cair na TV alguma categoria feminina – ou ginástica artística, que afinal é um esporte feminino – o palpite tem que ser nas asiáticas. Coréia, China, Japão, quem tiver olho puxado manda bem.

Ser David Beckham nas resenhas esportivas é uma arte quase tão nobre e complexa quanto ser Augusto Cury em blog. O que eu quero dizer é que existem algumas preocupações muito necessárias. Aqui, nesse blog, eu tento ensinar as pessoas que dá pra qualquer um ter uma vida decente e maneira. Como é que eu ia ensinar que dá pra vida ser maneira se eu caísse em referências humorísticas do tipo escrever o título “Olimpíadas” como “Olim Piadas”? Na verdade, nem decente tem como ser uma vida dessa. Esses trocadilhos escrotos de stand-up paulistano a gente escreve, vê que tá ruim, e simplesmente abandona. Tô falando isso porque já deve ter uma galera numa atividade mental assim:

– Pow mt fácil ser o belqham sei la como escreve da resenha vou dizer que a cerimônia de abertura da olimpiada foi linda e que no brasil se pegarem os elementos típicos vai ter bala perdida michel teló macumba rsrsrs esse país só ganha bronze parece que cada ano vai pior??? Rsrsrs.

Sério, por favor. Por favor.


Por. Favor.

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