sábado, 18 de agosto de 2012

Já posso ser preso



 Esse, sem dúvida, é o lembrete que eu mais ouvi no meu aniversário de 18 anos. Ou as pessoas são muito mesquinhas e ficam na expectativa de tudo de ruim que pode acontecer contigo, ou elas leem assiduamente meu blog e cansaram de olhar aquela parte em que eu dizia que ia aproveitar os “últimos meses antes da maioridade para falar todas as merdas que sempre quis, antes que possa ser preso por isso”. É claro que eu acredito na segunda opção, mas a questão não é essa.


É engraçado como essa passagem para a maioridade tem muita importância para todas as pessoas, menos para aquela que faz 18 anos. O máximo que essa pessoa vai sentir é que ela pode se aproveitar da importância que os outros dão a isso e continuar frequentando todas as boates e participando de todos os comas alcoólicos da cidade, mas sem precisar mostrar uma identidade falsa pra isso. Aliás, tá aí mais uma diferença de pensamento entre o cara que faz 18 anos e todas as pessoas em torno dele. Enquanto essas pessoas se ligam em todos os documentos que você vai precisar (título de eleitor, CPF, carteira de motorista), o cara que atinge a maioridade só pensa na incrível facilidade burocrática que ele terá ao não precisar de DUAS identidades na carteira. Mais simplicidade pra sair de casa, impossível.

Sinceramente, eu espero não me tornar um cuzão que vive reclamando de como é complicada a vida depois dos 18 anos. Tá certo que eu disse o mesmo sobre continuar vendo desenhos animados o dia inteiro, quando eu tinha cinco anos, mas acontece que o Cartoon Network virou um lixo e agora eu confio mais na minha capacidade de manter uma promessa. Na moral, como que fazer 18 anos pode ser tão ruim assim? Tu realmente espera ser preso a partir de agora? Deixa eu contar uma coisa: você não se transforma em um Alexandre Nardoni quando dá meia-noite do dia do seu aniversário. Sabe quem realmente pode ser preso assim que faz 18 anos? O menózinho do morro que o Comando recruta aos 12 anos pra carregar cocaína. Tirando o fato de eu ser muito magro e usar a expressão “tá ligado” como vírgula, não vejo como eu possa me enquadrar nesse caso.

Fazer 18 anos não tem nada de ruim, gente. Aliás, ruim mesmo deve ser não fazer. Façam 18 anos. O máximo que pode acontecer é, sei lá, a descrição do teu blog não fazer mais sentido. Mas isso você resolve deixando de escrever nele e pronto. Tu não vai morrer por causa disso (que é provavelmente o que aconteceu se você não fez 18 anos na data prevista). Nem ser preso, pode ter certeza.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Olimpíadas


Com essa onda de geral usando facebook e twitter por aí, virou moda a galera do jornalismo falar que tudo nesses últimos anos é um “momento histórico”. Em 2010 foi o “momento histórico” dos internautas trollando* a Copa do Mundo com hashtags como o “CalaBocaGalvao” (*expressão da época). No mesmo 2010, os mesmos brasileiros fizeram “história” tendo a oportunidade de usar o twitter para escrever profundos textos e reivindicações de extensos cento e quarenta caracteres para seus candidatos nas Eleições. Aí chega 2012 e os caras já tem a matéria pronta: “Momento histórico. As primeiras Olimpíadas do facebook”.

O único marco histórico de verdade dessas Olimpíadas é a oportunidade dos meus leitores de finalmente pagarem de expert nesses jogos olímpicos. Talvez vocês não saibam, mas estão lendo as palavras de um típico Beckham das rodinhas de resenha esportiva.

Nessas rodinhas sempre tem um Romário, aquele sacana que finaliza os comentários dos outros com uma piadinha malandra; um Guiñazu, vulgarmente conhecido como o chato que não se rende de jeito nenhum a um massacre de argumentos contrários ao seu; um Paulo Vinícius Coelho, o sujeito que serve de database pra galera não ficar sem argumento na hora de comentar se a Copa Toyota é ou não é título mundial; entre muitos outros.

Eu sou o (Augusto Cury) David Beckham: um cara com mulher, vida social, trabalho fora do esporte, que por tudo isso não tem muito tempo pra assistir eventos do porte de um China x Japão pelo badminton. Como não quer ficar de fora do bagulho, esse cara é aquele enganador que fica quietinho, na dele, só esperando a oportunidade de fazer uma intervenção totalmente genérica e que não leva a lugar nenhum, mas que vai soar como a palavra de um especialista. E aí já viu, amigo: a galera toda concorda, bate palma, e o cara sai como expert sem saber de porra nenhuma.

Na boa, pra que acompanhar atletismo, por exemplo? Se não for um negro ganhando, é um americano. Quando o cara for os dois ao mesmo tempo então, é quase certo. Tu tá ali em volta da TV com seus amigos, prestes a começar os 800m livre e a galera levanta a ideia de um bolão. Tu é um cara alienado, só conhece o Bolt e a Maurren Maggi que eu sei, vai apostar em quem? No americano mais negro que aparecer ali. Sem medo.

Você discordaria de alguém que aposta nesse tipo de atleta?

Se tu pegar um Che Guevara na rodinha e o cara começar a discordar de você por causa da sua preferência pela Coca-Cola, basta mudar o palpite para um eslavo. Qualquer país do Leste Europeu é sempre um palpite inteligente. Ninguém vai duvidar de um cara cujo nome é impronunciável e tem cara de inimigo do Rocky Balboa. Agora, se por acaso cair na TV alguma categoria feminina – ou ginástica artística, que afinal é um esporte feminino – o palpite tem que ser nas asiáticas. Coréia, China, Japão, quem tiver olho puxado manda bem.

Ser David Beckham nas resenhas esportivas é uma arte quase tão nobre e complexa quanto ser Augusto Cury em blog. O que eu quero dizer é que existem algumas preocupações muito necessárias. Aqui, nesse blog, eu tento ensinar as pessoas que dá pra qualquer um ter uma vida decente e maneira. Como é que eu ia ensinar que dá pra vida ser maneira se eu caísse em referências humorísticas do tipo escrever o título “Olimpíadas” como “Olim Piadas”? Na verdade, nem decente tem como ser uma vida dessa. Esses trocadilhos escrotos de stand-up paulistano a gente escreve, vê que tá ruim, e simplesmente abandona. Tô falando isso porque já deve ter uma galera numa atividade mental assim:

– Pow mt fácil ser o belqham sei la como escreve da resenha vou dizer que a cerimônia de abertura da olimpiada foi linda e que no brasil se pegarem os elementos típicos vai ter bala perdida michel teló macumba rsrsrs esse país só ganha bronze parece que cada ano vai pior??? Rsrsrs.

Sério, por favor. Por favor.


Por. Favor.